Translate

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

À QUEIMA-ROUPA — O caso Pimenta - Daniel Barros

À QUEIMA-ROUPA — O caso Pimenta Neves

Fico impressionado, e me dá muito prazer quando me deparo com autores que nos transportam para dentro do ambiente e das paisagens. Assim faz Vicente Vilardaga logo no início do seu livro À queima-roupa. “Era um dia de domingo de agosto do ano de 2000. O céu azul se escancarava quase sem nuvens e amanhecia com um delicioso ar fresco...”.  Suas descrições nos levam para dentro do Haras Setti naquele dia fatídico, onde Sandra Gomide foi covardemente assassinada. Tais traços me lembram de outros escritores de quem gosto muito, como Bernardo Guimarães, Ernest Hemingway, entre outros.
Deixando de lado o prazer com as descrições, Vicente nos brinda com uma espetacular retrospectiva do momento econômico vivido no Brasil na segunda metade dos anos 1990. O início do Plano Real, as privatizações realizadas durante o governo Fernando Henrique Cardoso, a crise das grandes companhias aéreas e seus impactos na sociedade.
Outro aspecto notável desse livro é o conhecimento do autor dos bastidores de redações de jornais como Estadão e, sobretudo, Gazeta Mercantil (cabe ressaltar também como é ético o autor ao contar a história). Com ênfase no período em que Pimenta Neves foi editor-chefe na Gazeta Mercantil e diretor de redação do Estadão, e de como comandava as redações com arrogância, prepotência, autoritarismo e nepotismo. E como ele usou do poder e do cargo para conquistar a jovem jornalista Sandra Gomide, 30 anos mais nova que ele.
Daniel Barros e Vicente Vilardaga, 32ª Feira do livro de Brasília
O livro nos mostra, também, quanto são poderosos os que comandam a grande impressa nacional. E Pimenta Neves, ciente desse poder, se mostra o monstro que realmente é, diferente da imagem de homem culto e equilibrado, como era visto. Vicente Vilardaga de forma corajosa e muito profissionalismo nos revela os bastidores desta intrigante história, onde o protagonista, Pimenta Neves, talvez tenha comungado com a ideia de Raskólhnikov, personagem de Dotoiévski, de que os homens “superiores” deveriam tudo poder. Depois do fim do namoro, ele persegue Sandra de todas as formas, até assassiná-la.
À queima-roupa é um livro que vale uma boa leitura e um lugar de destaque em nossa estante.


*Daniel Barros, 45, escritor e fotógrafo alagoano residente em Brasília.

Nenhum comentário:

Postar um comentário