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quinta-feira, 6 de abril de 2017

LANÇAMENTO - Meu Deus, Mas Que Cidade Linda, livro de Rodolfo Melo - Daniel Barros

O conto difere da novela ou do romance por ser mais curto, tendo uma estrutura fechada e desenvolvendo uma história com apenas um ápice. Entretanto, como toda obra ficcional, cria um mundo de seres, de fantasias ou eventos. No conto também encontramos narrador, enredo, personagens e opiniões. Sendo o conto o gênero curto da prosa, não temos margens para erros. Em um romance podemos pular partes chatas, ou lê-las com menos atenção; isto não é permitido no conto, ou gostamos ou não do clímax único.
  Há os que dizem que os contistas estão perdidos, em decorrência do favorecimento ao romance em oposição à prosa curta. Discordo, pois temos entre nós escritores contistas fenomenais, tais como: Dalton Trevisan, Ivan Marinho, Rubem Fonseca, Paulo Souza, Julio Cortázar, E. Hemingway, Karen Blixen – com seu esplêndido A festa de Babette –, Leon Tolstói, Machado de Assis e o moçambicano Mia Couto, entre inúmeros autores que poderia aqui citar, que não permitem que os contos figurem em segundo plano. 
Rodolfo Melo
Com Meu Deus, Mas Que Cidade Linda de Rodolfo Melo, fico ainda mais tranquilo com o fato de que os contistas preservaram o conto em um lugar de destaque na prosa de ficção. Encontramos neste livro várias características que me chamaram a atenção; escrito às vezes na primeira pessoa, ora na terceira, e até mesmo havendo alteração no gênero do narrador, o que é de extrema complexidade. Diferente dos romances, os contos têm que condensar o enredo e ao mesmo tempo tudo dizer. Rodolfo demonstra um profundo conhecimento sobre sua aldeia (a Capital da república), o que me remete à célebre frase de Tolstói: “Se queres ser universal escreve sobre a tua aldeia”. Melo consegue, com mestria, abordar os problemas sociais vividos por seus personagens, que, diga-se de passagem, são muito bem construídos e me chamaram a atenção pela coerência nas características psicológicas de cada um deles, desde Jonas em Um crime no condomínio, onde as suspeitas sempre recaem sobre os mais fracos, verdadeira realidade preconceituosa de nossa sociedade, Josué em A história por trás de uma estatística, onde, como policial, parei para refletir se é possível que isso aconteça aqui? Ou é mais uma estória escrita por quem está de fora?
Assim, deixo para você, caro leitor, julgar Caldeirão do Diabo, um retrato fidedigno dos subúrbios de Brasília. Ainda dentro deste enfoque social na construção dos personagens, podemos destacar Um lobo em pele de cordeiro, um conto Kafkiano, onde o personagem se transforma para que possamos compreender o preconceito visto pelo oposto.  Outra característica marcante é a tragédia e os finais enigmáticos, tal qual ocorre em Machado de Assis e Guy de Maupassant, em que a construção da narrativa conduz para o final surpreendente. 
Não me restam dúvidas de que, da mesma forma como foi para mim a degustação de cada página deste belo livro, será também para você, caro leitor, que guardará na memória as bem construídas narrativas feitas por Rodolfo Melo, uma vez que este volume terá lugar de destaque em nossas bibliotecas. 
Boa leitura.
Brasília, 27 de outubro de 2016.
Daniel Barros 
Escritor    
Lançamento: Sexta, 7 de abril às 19:30 - 23:00, Galeria Olho De Águia CNF, 72125-525 Brasília


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